À noite, quando ele vem Vem na calada E bate em surdina em minha morada Levanta uma suspeita quase surda Se enfurna na hora neutra da madrugada Em busca de consolo e de carinho Deixo ele entrar E ele então se aninha entre o regaço Estreito do meu colo Se embrenha em meus lençóis E minhas colchas lhe dão calor E ele aquece a minha alcova Onde meu sonho parece verdadeiro Me pede afagos e fuma meus cigarros Diz que me protege E exibe seu revólver Beija minha boca com ternura E jura que sou a única da rua A única a dar-lhe abrigo quando chove Eu lhe sacio à sede os meus desejos E ele impunemente mata Me mata de saudade quando parte E parte o coração da mulher que quer ser sua Ela ama e sofre e reluta Pois não quer se entregar inteiramente A um homem que é Um pobre guarda-noturno de sua rua