Visto minha melhor roupa Calço os melhores sapatos Sinto tremores na boca, ansioso Compro flores no artesanato Minhas dores por amores do passado Acabou com meus louvores a donzela que encontrei E os senhores que eu vejo abraçados no porta-retrato Tem nossos traços nos rastros o futuro enxerguei Agora são 17 horas, as escolas se esvaziam Vejo todos irem embora, só não vejo minha guria Passam horas, minha apavora, vou embora, frio e sério O que faço nessa porta cinza de um cemitério? Onde moro? Agora esqueço; pego um terço, faço reza Não mereço esse preço, minha luz perdeu pra trevas Enlouqueço; vejo uma placa com o nome da minha amada Lembro por que trouxe flores de cores esbranquiçadas Chove forte nessa cidade cinza Sinto-me ensopado pelas lágrimas dos anjos Aos poucos organizo as lembranças em minha mente Lembro da sua ausência e isso me machuca tanto Recordo-me do nosso grande dia O santo matrimônio na Santa Igreja Prometi amá-la, confortá-la, protege-la Tantos planos foram feitos, prometi lhe dar o mundo Uma casa, vida modesta e um casal de pequerruchos E eu me encontro em frente de um antigo porta retrato Me encontro aqui recolhendo os meus estilhaços Me encontro aqui tentando me recompor E compor versos de um amor antigo de um longínquo passado Vejo o seu lado da cama vazio O mesmo vazio que eu sinto na minha vida cotidiana Parece que até aquilo que é colorido tá sombrio Isso é o que um homem sente quando perde a mulher que ama Enquanto eu escrevia isso nossa filha apareceu E ela sorriu pra mim aquele sorriso idêntico ao seu E eu, nem soube o que dizer pra ela Ela me abraçou e disse: Papai, tá com saudade dela? Sim, sinto muita saudade, sei que cê também sente Mas sei que lá de cima ela tá olhando pra gente Mas sei que aqui ela cumpriu seu papel Me deu a filha mais linda e foi ser a mais linda no céu! E mais um dia se passa, na cama eu me deito Na minha mente um filme passa e esse filme é a seu respeito E assim eu adormeço, mas eu nunca te esqueço Eu pagaria pra te ter de volta, não importa o preço! Me veio a negação, a raiva, a negociação A depressão e conformado veio a aceitação Mas não há um dia que passe despercebido As lembranças daqueles melhores dias vivido Agora é tocar a vida, pois ninguém vai se importar O quanto eu me importo por você não aqui estar Pois ninguém vai tomar minhas dores por toda vida Escondo a tristeza atrás dessa persona todo dia Estou sorrindo por fora e por dentro eu me afogo Tipo Naufrago na ilha; eu me sinto tão sozinho Eu me isolo, pois, tristeza tenho muito a partilhar E ninguém tem a vê com a porra dos meus problemas Você deixou umas coisas suas no criado-mudo Eu guardo com tanto carinho, mas olho e me culpo Eu sempre acho que eu poderia até evitar O ruim de não crer no céu, é crer nunca mais te olhar Porque eu me sinto culpado por eu não estar lá E eu me sinto tão errado por falhas que cometi Quando você estava aqui, então por isso perdi A minha metade boa que em você construí Socos no espelho e o sangue escorre pela pia Reflexos de olhos vermelhos de uma alma em agonia Me isolo nessa bolha e me sinto tão sozinho Me afogo em tragos de Marlboro e goles de vinho Abro a porta e vejo um caminho obscuro Formando por rastros de sangue e um rio de lágrimas No céu vejo um filme de nossas histórias, e isso é duro Lembro do nosso fruto que é quem sofre mais Acordo atordoado da ilusão em meios aos cacos Quero fugir dessa prisão eterna e desse caos Buscando te encontrar, a mesma arma usada Pra apagar delinquentes, eu aponto pra minha mente Visto minha melhor roupa Calço os melhores sapatos Sinto tremores na boca, ansioso Compro flores no artesanato Minhas dores por amores do passado Acabou com meus louvores a donzela que encontrei E os senhores que eu vejo abraçados no porta-retrato Tem nossos traços nos rastros o futuro enxerguei