Talvez eu não seja poeta Talvez eu só traga uma seta Cravada no peito que espeta Quando a vida é curta E a alegria é pouca Quando busco uma reta na estrada torta Talvez eu não seja poeta Só traga no peito cravada uma faca Que dilacera Quando abro a janela E a natureza é morta Quando o grito é frágil E a justiça é surda Talvez eu não seja poeta Só traga no peito uma ferida aberta Que aperta Quando a ilusão me visita Quando a palavra exata escapa E jamais é escrita Talvez eu só seja um romântico Nesses dias de luta Com um gemido discreto Atado à garganta E um grito lunático que ninguém escuta