Pablo Bertola

Umas e Outras

Pablo Bertola


Uma parece sereia
A outra mais desengonçada
Uma lembra a Santa Ceia
A outra a fome danada
Uma o dia clareia
A outra é noite fechada
São milhões de palavras feias
E bonitas misturadas

Umas sempre mais tranqüilas
Outras mais desesperadas
Umas calmas e gentis
Outras loucas, irritadas
Umas leves, pueris
Outras com carga pesada
Umas sábias e sutis 
Outras que não dizem nada
Mas são milhões de palavras feias
E bonitas misturadas

Umas só vejo em inglês
Outras aportuguesadas
Um revelam de vez 
Outras tantas camufladas
Mas são milhões de palavras feias 
E bonitas misturadas

Umas são de dar tristeza
Outras andam enfeitadas 
Umas santas da pureza
E outras putas renegadas
São milhões de palavras são
Todas querem ser usadas
Se atracam em bofetão
Foice, gilete, facada
Um destaque no refrão 
Querem ser eternizadas

Mas o poeta de plantão
Não é bom pede perdão
Como hoje está chovendo
Está sem inspiração