Sou neto de um preto velho Do tempo da escravidão Sou filho da escrava Isaura O meu pai é o Pai João Vi meu povo humilhado Maltratado igual um cão Quantas vezes fui trocado Por patacas e tostão Trabalhava o dia inteiro O escravo boi carreiro Castigado no ferrão Nasci num velho casebre Na fazenda do Simão Eu nunca fui batizado E sou um homem pagão O branco tratava o negro Como não fosse cristão Apanhava de chibata Com tamanha judiação Aguentava desaforo Dormia em cima de um couro No fundo de um porão Sou parte dessa história Desse processo esquisito Fui um homem cabresteado Nas mãos de senhor maldito Mas o juízo final Deu ao negro o veredicto Hoje enfim compreenderam Que somos todos irmãos Fui um burro apealado Tenho o corpo assinalado De chicote do patrão No dia treze de maio Houve o grito de emoção Ao ver a carta escrita Nos dando esta condição Deus é pai não é padrasto E nos deu esta bênção Dando abrigo à raça negra Estendendo a sua mão Fez um bonito papel Foi a Princesa Isabel Que nos deu a abolição Entre as estrelas negras Pixinguinha e Gonzagão Nosso Milton Nascimento João de Freitas e Jamelão Michel Jackson e Mandela E o Mussum dos Trapalhões Salve a Mãe Menininha Que jamais será esquecida Nossa santa padroeira Tem também a pele negra A Senhora Aparecida Grande Otelo inesquecível Do cinema brasileiro O Pelé está na história Também o rei da viola O saudoso Tião Carreiro