O patrão da eternidade É um tropeiro de luxo Fez do sul a nossa querência Criou o cavalo e o gaúcho No lombo do meu cavalo Me sinto um rei no trono O meu flete me obedece Tem respeito pelo dono Fui eu mesmo quem domei Aproveitando talento Que a história do meu cavalo É um fato que eu lamento Foi num dia de rodeio Chovia barbaridade Meu pingo rodou comigo Quebrou perna na metade Saltei de cima do potro Que ficou ali no chão Me olhando e esperando Pela sua execução Quando um cavalo se quebra Matar o animal é o jeito Mas acabar com um amigo de arreio Eu nunca achei isso direito O povo todo gritando Presenciava o momento Dizia: Mate o animal e acabe com o sofrimento Eu olhava pro cavalo O cavalo olhava pra mim E a dor que ele sentia Parecia doer em mim Eu abracei o meu pingo E ajudei a levantá-lo O povo todo pedindo Que eu matasse o meu cavalo Eu senti naquele instante Quando amigo era meu potro Mas amigo que é amigo Não tira a vida do outro Dois amigos que se entendem Na verdadeira amizade O gaúcho e o cavalo São amigos de verdade Levei o potro pra estância Cuidei dele feito gente Amizade verdadeira não se acaba no acidente Hoje quando eu vou pra lida Noutro pingo galopando Escuto lá na cocheira o meu potro relinchando É a forma que o meu cavalo Num sentimento profundo Me agradece pelo gesto De tê-lo deixado no mundo Não monto mais meu cavalo É verdade eu lhes digo Ele vai morrer de velho Ninguém mata o meu amigo