Quem pergunta quem sou eu Eu nem sei lhe arresponder Eu sou um pobre matuto, Que nasceu só pro nascer Vivo num mundo sem crença Desafiando as sabença Dos dr. bem estudado,, Sou coroné sem patente Na estrela do sol quente, Meu pensamento é forjado. Sou cabra desconfiado Feito preá de serrote Sou perdido, sou achado, De tudo eu sou um magote; Sou grito de lavandeira, Sou cururú de biqueira, Sou promode, sou que nem, Que nem tudo eu sou um pouco Sou sertanejo, cabôco Que nunca invejou ninguém. Sou caldo de cana puro Na bica do moedor, Calango de pé de muro Se escondendo do calor, Sou rangido de porteira, Cigarra de catingueira, Assovio de caipora,, Vento que espanta o sofrer, Cuma quem vem pra dizer, Que a chuva ainda demora. Sou uricurí maduro, No festejo dos meninos Sou moleque sem futuro Dos cafundós nordestinos Sou a correia da sela Que prende o nó da fivela Da cangáia do jumento,, Sou da tropa desgarrada Que bota o pé na estrada Pra fugir do sofrimento. Sou cariri, sou bibocas Vale estreito, sou riacho, Sou corredor das tabocas Sou café feito no taxo, Sou abelha jandaíra Sou mocó de macambira Com medo de caçador,, Sou matuto, pé no chão, Mas nos dias de eleição Eu também sou eleitor. Sou eleitor com vontade Chega dá nó na garganta Votando pela verdade E às vezes nem adianta Muitas vezes tem votado, Em prefeito deputado, Que se diz amigo meu,!! Cumprimenta-me, abraça, Depois que a política passa Nunca mais se lembra deu. Eu sou o zé da enxada Da foice, do jereré, Talvez um zé quase nada Mas não deixo de ser zé Zé da lenha, do roçado, Zé pastorador de gado, Tangedor de burro manco, Zé do povo, zé ninguém Zé, que não tem um vintém Nem no bolso nem no banco. Sou miolo de pereiro, Insistente e cabeçudo Que crer num deus verdadeiro Um deus a cima de tudo. Um deus de quem eu sou filho Deus da espiga do milho, Deus da fulô do feijão, Nesse sim eu acredito Sem pai nosso, sem bendito, Igreja ou religião. Sou grito de patorí Flexa- peixe na lagoa Pescador de lambari No balançar da canoa Muito mais que tudo isso, Sou abelha de cortiço Com seu corpo pequenino, Nesse vai e vem medroso, Traçando o mel saboroso Na colméia do destino. Eu sou casaca de couro Sou espora de metal Sou zumbido de besouro No pendão do milharal Eu sou o brilho da onda A lua cheia, redonda, Branquinha da cor de um véu, Emborcada sobre a mata Igual um prato de prata No guarda louças do céu. Fim Www.onildobarbosa.palcomp3.com.br