Bicho cego Solto medo, solto o medo Sou o medo Eu aqui trancado em meu Apartamento Esquecido entre os esgotos, os Desgostos As mazelas e os maus gostos E lá fora o mundo é só imagem Sou imagem pra lembranças de Alguém Que me espera Me condena Me venera Me envenena Eu aqui trancado em meu Apartamento Procurando tempo Busco o tempo pra voltar Viver Ser algo mais que pensamento Eu me encaro no espelho Solto o medo Sou o medo Eu aqui trancado em meu Apartamento E perco o tempo, calo o tempo Não há versos Eu me rendo Rasgo o pensamento Sou memória vã da vida que em Mim secou Eu me despeço Encarcerado pelos versos Que eu mesmo faço e calo E as palavras que entopem minha Boca Desmaiam derrotadas E morrem derrotadas Bicho cego já tão velho E eu ainda medo Encarcerado pelos versos que eu Mesmo escrevo Que eu mesmo calo Gotas de uma dose que eu nunca Bebo Queria tanto estar bêbado Mas veja só Eu ando tão cansado em meu Apartamento E já não tem mais jeito Pra essa fuga tão sincera Tão malandra Tão esperta Tão liberta De um bêbado que vaga pela Madrugada deserta Esquecendo-se do que se fez Mas tanto faz Eu não me esqueço mais E se alguém perguntar por mim Diga que não estou Ou melhor Diga que estou só Como sempre encarcerado por Meus versos Em meu apartamento E perco o tempo, calo o tempo Não há versos Eu me rendo Rasgo o pensamento Sou memória vã da vida que em Mim secou Eu me despeço Encarcerado pelos versos Que eu mesmo faço e calo E as palavras que entopem minha Boca Desmaiam derrotadas E morrem derrotadas