De que vale fugir Quem não tem aonde ir Quem não tem direção? Se além do quintal Medram flores de cal Como aquém do portão? Costurando em vão Vais atando nas mãos Um novelo de nós E procuras o mar Por um rio circular Que aflora na foz Fazes norte o farol Rodopias no Sol Sob a estrela polar Como a dança axial De um pião que afinal Nunca sai do lugar Onde quer que tu vás Só teu teto verás Desenhado no céu Cada noite a fugir Vai fincar-te aqui Em voragem, ao léu E teus passos cinzel Vão lavrar no papel Uma carta carmim E nas linhas de giz Terão a mesma matriz Teu começo, teu fim Em longínquos jardins Colherás os jasmins Que plantastes aqui E a casa ao redor Feito nuvem de pó Pairará sobre ti Fugirás como se Ausentar-se de si Fosse força de fé Mas tão longe de cá Tens a volta a queimar Sob a sola dos pés