Vou contá o que eu nunca vi Duvido de quem já viu Nunca vi filho de pobre Que nunca tremeu de frio Eu nunca vi gavião Que tem medo de tiziu Nunca vi cabra nem bode Se jogar dentro do rio Eu nunca vi um pedestre Que não procura desvio Nunca vi um jangadeiro Apostando com o navio Nunca vi uma perereca Pular dentro da fogueira Também nunca vi um padre Pelas ruas de zoeira Nunca vi um cachaceiro Que não conversa bobeira Nunca vi um sujismundo Casado com lavadeira Nunca vi quem cai no rio Não querer sair nas beira Nunca vi um lambari Ter medo da cachoeira Eu nunca vi um artista Enjeitar circo lotado Nunca vi casal de pobre Que não passe apertado Eu nunca vi um mineiro Falar mal do seu estado Eu nunca vi um juiz Defender quem anda errado Nunca vi um egoísta Que não puxa do seu lado Nunca vi um cobrador Toda hora ter trocado Eu nunca vi neste mundo Coqueiro com dois palmitos Eu nunca vi uma mãe Não achar o filho bonito Nunca vi cavalo velho Que não transporta mosquito Nunca vi um papagaio Apanhar do periquito Nunca vi a araponga Cantando sem dar um grito Nunca vi um vigarista Que não fosse bão de bico