O relógio apressado não me esquece O despertador verbal nos alerta Está na hora de eu voltar O despertador moral me obriga Está na hora de eu voltar Não é apenas uma maçaneta São duas trancas para a saída Uma tangível e sólida como carvalho E a outra se dá por um traço e ponto Separados A primeira, chamamos de sentimento A segunda, são duas, três tentativas Até que acerte a chave no buraco Precedido de um beijo, um abraço De carinho, um cheiro apertado Um aperto de mãos Palavras de baixo calão Dois rostos se calam, depois riem Dois corpos que gritam e fingem Que estão preparados para a volta Os primeiros passos bambos Agora na solidão inóspita Seguem a rua, e os pontos brancos, Estrelas me lembram seus brincos Os sons dos passos são os brindes Após o último abraço brando. Todas as voltas são únicas Singularmente parecidas Todas partem do mesmo ponto E vão de encontro a uma entrada Que um dia já foi saída Todas as voltas são proporcionais à lua A lua a pino Os rostos são baixos As feições se voltam para o asfalto O sorriso gravitacionalmente Volta-se para o asfalto Chão esse, pelos pés maltratados, Presente em todas as voltas ali feitas Diferente da grande e estática Telespectadora lua O chão é agente conosco Sem ele não haveria volta Porém, sem a lua também não Pois meu retorno se dá Quando ela estende sua face Na sua janela Ó astro, por que não me esquece? Por que não permanece em outros céus Avisando outros atrasados? Sua brancura despovoada É incapaz de vencer O fulvo tom de girassol Que exalta de poste em poste E de poste em poste eu me refaço Recupero-me do intervalo Dos muros pichados Dos portões com os cachorros soltos Bem, eu sou menos livre E cada passo é um estalo Cada carro vindo contra Anuncia minha sombra Com o farol que me faz cego E novamente me desmonta E de carro em carro eu me refaço No limite do horizonte pensa um homem Observa-me, e por mim é observado Com sua touca, o elmo do soldado notívago É notável que seja cria do Estado Segue fixo em minha direção E cada ser errante por mim ultrapassado, Sem interações que violam os olhares Reconstrói-me E de olhares em olhares eu me refaço Eu dobro as esquinas Está por fim o meu regresso O que resta após a volta? Certamente menos do meu próprio ser Minha mente ainda ficou aí Minha alma ainda pertence a ti Resta-me meio sorriso Pois para voltar, Para algum lugar eu tenho que ter ido E contigo é o meu lugar E de volta em volta eu me despeço Desfaço.