Menino Thito

As Voltas | Segatto (part. Fernanda Lima)

Menino Thito


O relógio apressado não me esquece
O despertador verbal nos alerta
Está na hora de eu voltar
O despertador moral me obriga
Está na hora de eu voltar

Não é apenas uma maçaneta
São duas trancas para a saída
Uma tangível e sólida como carvalho
E a outra se dá por um traço e ponto

Separados

A primeira, chamamos de sentimento
A segunda, são duas, três tentativas
Até que acerte a chave no buraco
Precedido de um beijo, um abraço
De carinho, um cheiro apertado
Um aperto de mãos
Palavras de baixo calão
Dois rostos se calam, depois riem
Dois corpos que gritam e fingem
Que estão preparados para a volta

Os primeiros passos bambos
Agora na solidão inóspita
Seguem a rua, e os pontos brancos,

Estrelas me lembram seus brincos
Os sons dos passos são os brindes
Após o último abraço brando.

Todas as voltas são únicas
Singularmente parecidas
Todas partem do mesmo ponto
E vão de encontro a uma entrada
Que um dia já foi saída

Todas as voltas são proporcionais à lua
A lua a pino
Os rostos são baixos
As feições se voltam para o asfalto
O sorriso gravitacionalmente
Volta-se para o asfalto
Chão esse, pelos pés maltratados,
Presente em todas as voltas ali feitas

Diferente da grande e estática
Telespectadora lua
O chão é agente conosco
Sem ele não haveria volta

Porém, sem a lua também não
Pois meu retorno se dá
Quando ela estende sua face
Na sua janela
Ó astro, por que não me esquece?
Por que não permanece em outros céus
Avisando outros atrasados?

Sua brancura despovoada
É incapaz de vencer
O fulvo tom de girassol
Que exalta de poste em poste
E de poste em poste eu me refaço
Recupero-me do intervalo
Dos muros pichados
Dos portões com os cachorros soltos
Bem, eu sou menos livre
E cada passo é um estalo
Cada carro vindo contra
Anuncia minha sombra
Com o farol que me faz cego
E novamente me desmonta
E de carro em carro eu me refaço

No limite do horizonte pensa um homem
Observa-me, e por mim é observado
Com sua touca, o elmo do soldado notívago
É notável que seja cria do Estado
Segue fixo em minha direção
E cada ser errante por mim ultrapassado,
Sem interações que violam os olhares
Reconstrói-me
E de olhares em olhares eu me refaço

Eu dobro as esquinas
Está por fim o meu regresso
O que resta após a volta?
Certamente menos do meu próprio ser

Minha mente ainda ficou aí
Minha alma ainda pertence a ti
Resta-me meio sorriso
Pois para voltar,
Para algum lugar eu tenho que ter ido
E contigo é o meu lugar
E de volta em volta eu me despeço
Desfaço.