Coração cheio de mágoa e a mente vazia O pai sumiu, a mãe trabalha o dia todo, o país tá de hipocrisia Não dá educação, não dá lazer, não dá nada Mas quer construir mais cadeias pra ver se a violência acaba Violência é o SUS, violência é o ensino, violência é a justiça Como acabar com a violência sendo mais violento ainda? Direitos humanos pra humanos direitos, de repente Ser humano direito virou sinônimo de ser indiferente Onde você tava, quando a barriga roncava Quando o policial espancava, enquanto as coronhada deixava marca? As pancada da vida educa igual sua atenção O menor só é preocupação, quando tá com uma arma na mão Aí vai ser tarde, sem lágrima covarde O luto da sua família comove, mas não resolve a desigualdade A rua cria e a rua é fria, mas quem liga? Se a dor é do outro, ninguém sente como deveria O monstro é a gente e não o menor O monstro é a gente que ignora e sempre espera pelo melhor O monstro é a gente e não o menor O monstro é a gente que dá arma, drogas e não espera pelo pior Pra sociedade de menor, pra policia projeto de vagabundo É uma criança, que não tem mais nome, sonhos é só um número Se fosse seu filho, cê acharia normal? O que eles chamam de rolezinho, eu chamo de abandono social Hoje ele tá no sinal, amanhã tá no jornal A propaganda fala pra ele do celular, cê acha que ele não vai querer um igual? Que bonita a imagem, da criança do lado de fora do vidro Mas não vai ser bonito quando ela resolver apertar o gatilho Querer ter e não poder ter um tênis da hora Enche a mente de revolta, esvazia o pente duas vez e volta É menos um no mundo agora, é mais uma mãe que chora É a morte do corpo, porque a alma faz tempo que tá morta Bandido bom é bandido morto, complicado Depende da cor, do sobrenome e de quanto é o salário Bandido bom é bandido morto, mas me explica Nossas avenidas têm nomes de assassinos, e quem liga? Filho de policiais que mata os colegas com a arma dos pais Se torna vítima do bullying nas redes sociais Mas o menor que rouba celular, não merece compaixão Sem direito a defesa, é julgado e linchado pela população Esses capitão do mato enxerga todo negro como suspeito Porque quem morre é sempre pobre, sem estudo e preto Quem decide em qual bandido pode atirar? Tem tanto bandido em Brasília, porque a polícia nunca invade lá? Quantas histórias foram contadas por quem manda? O jornal mente pra poder vender mais propaganda Quem dita as regras num mundo capitalista? Quem pode pagar funcionário ou quem precisa de avalista? Triste essa história de quem quer pode Se fosse assim da onde eu venho ninguém teria nascido pobre Meritocracia é uma péssima desculpa Pra sociedade não assumir que a pobreza faz parte da sua estrutura Desigualdade é o que mantém as favela Porque enquanto uns compram TV nova outros ganham com ela A questão é porque assistimos novela? O mocinho nunca se parece comigo e só quando desligo que eu me vejo na tela