Os pais são filhos ou netos De campeiros que emigraram Largando a doma dos potros Pra empurrar carros de mão Cambiaram seus campos verdes Que viam ao clarear do dia Por léguas de sesmarias Cinzentadas de concreto Perderam o rumo das roças E a noção dos horizontes Pra se amontoar como ratos Nas cabeceiras de ponte Quem teve doces na infância Quando come não se suja Mas quem nunca comeu doces Quando come se lambuza Caras magras lambuzadas Olhos grandes regalados Pra "mesa dos inocentes" — Promessa que o povo faz — E um verão de cigarras No coração dos piás Imagens de santos velhos Olham a infância no altar Anjos loiros transparentes Com asas pra não voar