Mauro Moraes

Semente e Palavras

Mauro Moraes


Tem vez que a lua desponta 								
E me encontra neste exílio fiel,								
Botando canga no medo,								
Lavrando com os dedos palavra e papel...								
Reviro a pele dos versos, dispersos,								
No campo branco das folhas								
E planto meu universo imenso								
Por onde a lua me olha...								

Neste aramado das linhas, vizinhas,								
De taipas retas e secas,								
Derramo a água das mágoas daninhas								
E planto rimas nas cercas.								
Meu pasto mal dá pro gasto, tão vasto,								
Nesta colheita de sonhos, tamanhos,								
E levo as tralhas por trilhas, sem rastro,								
Onde a palavra germina meus ganhos...								

Todo caderno é um deserto aberto,								
Pra mão agrária que planta e que lavra...								
A minha sina sulina eu sustento,								
Jogando ao vento semente e palavras.