Tô aqui de novo O poeta acordou Você deve tá pensando onde Ele estava o que rolou Pra mim tava difícil Não tava fácil sobreviver não Não que estava tão ruim Mas para eu sobreviver Tava vendendo minha Arte Como se fosse amendoim Na rua Não que eu esteja zangado com isso Aqui não é um farsante não É o Afroage, o Mauricio Todo mundo tava pensando Que o poeta estava adormecido Eu tô aqui, vivo Com muita força, ativo Sou Mestiço, sou Negro Sou Índio Sou descendente de vários Povos Tô aqui Afroage pronto pra Guerra A guerra contra a falta de Dinheiro A guerra de ser Brasileiro A guerra de viver num mundo Cheio de preconceitos Contra o preto, contra o gordo Contra a mulher Gente que mora numa cidade E não aceita o outro Gente que é de outro país e Também não aceita o outro Gente que vive na Palafita Gente que vive sem esgoto Fiquei doente muito tempo Pensando Como é que eu vou escrever Sobre isto E como eu vou escrever o Mundo todo em três minutos Não é mais dezoito como o Faroeste Caboclo Três minutos pra escrever tudo Que se passa no mundo Como é que eu posso E ter responsabilidade Todo mundo só tá escrevendo Pro mundo dançar Desestressar Tão falando de amor Se a gente faz um som pra Transformar Acho que ninguém vai nem Escutar Pensando nisso por um tempo Parei até de escrever Mas tô aqui de novo Não sei se eu sou um Esperançoso sem nexo ou um Fudido Mas vou continuar É Escrevendo que tenho direito de respirar É escrevendo que eu me sinto Mais forte Escrever para mim é como Protestar Escrevendo num muro Escrevendo num poste o que você quer O que você quer transformar E tô aqui de novo falando do Do meu povo As vezes falando um pouco de merda falando Coisa bosta Mas as vezes falando também de coisa séria Como os Sem Terra que tão Lutando por ai Falando de Nova York De Tokio Falando da Barra do Piraí Que eu nem sei onde é Ha ha E não falando de gente fraca Não Não vou falar de Zé Ahh, sei lá Acho que as vezes eu vou Falar Que eu vou ter que falar De tudo Alguns pensaram Que eu tinha desistido Já tavam olhando pra Mim e ficando puro Ai pensei, pensei e Observei E pensei Depois de observar Vi que eu eu não posso parar É assim Eu escrevendo, vou Escrevendo de tudo Como se eu estivesse Escrevendo pro mundo Num grande muro E como é que eu vou escrever Se tem gente que só tá Escrevendo merda Tem manos e minas que tão Escrevendo lance de verdade Eu tô me sentindo como se Todo mundo tivesse fome De leite E eu só tivesse uma teta Mas eu só sei uma coisa Eu vou continuar Eu não posso parar É meu som que me faz Sobreviver Não só o meu som, a Arte A cultura que eu gosto Mas também importante pra Mim Meu Deus, as pessoas que eu Amo As pessoas da família Os de sangue ou não As pessoas que considero e eu Chamo de irmã e irmão Esses cobram alguma coisa de Mim Que eu nem sei o que é Por isso que o poeta não pode Ficar adormecido Sei lá, talvez eu me calando Por um tempo eu tenha Crescido E vou continuando, falando Protestando Olhando ao meu redor E continuo rimando Eu sou aqui Eu sou pobre, favelado Brasileiro, mais um Preto Sabe que nosso som que Sai daqui do ABC No regional atinge o Brasil Mas na internet encontra o Mundo Atingi o universo E tenho certeza que uma Porção de vagabundo Quando ouve esse som Tem mais esperança na vida Eu vou em todo canto Canal do Panamá, Moçambique Angola, Brasil Ano passado tive no Rio Grande Do Sul Montenegro, Ouro Preto MG Sei lá acabei voltando Eu não devia ter voltado Mas o sentimento foi mais Forte, voltei E agora tô aqui Não sei se fico, não sei se Vou partir Mas tenho compromisso Preciso ficar aqui É uma merda que você tá Num mundo que você só é Importante se você é rico Mas minha riqueza tá dentro De mim Minha riqueza é minha livre Vontade Minha riqueza é minha cidade Minha riqueza são as pessoas Amigos e família que eu amo E me pergunto Pra que ter mais Se tem tanta gente que tem Menos Tô de volta ai Eu vi, eu vi esses dias o filme do Cazuza que me deu Inspiração O mano no fim da vida Mas escrevendo mais um Refrão Eu olho ao redor e vejo tanta Gente lutando Tanto mano que não para Tanto mano e mina lutando Sem parar É por isso que eu não posso Encostar, não posso parar Então pode ter certeza O poeta acordou