Quando eu era menino de ribeirinho, mãe me ensinou Foge de olho-de-fogo, seja o que for Pode ser fogo-fátuo, cobra-norato, maracajá Tincoã, caburé, saci, boitatá Mas eu não tive medo O dia que vi, o que mãe falou Quando o olho-de-fogo De uma morena me encandeou Era igual rubi reluzente Sol que vai raiar Fogo-de-santelmo, olhar de serpente Estrela-do-mar Era brilho de aço de gume Aro de luar Candelabro, ninho de vaga-lume Vela de altar Desde então tô preso nesse olhar Olho de labareda, tocha de luz que muda de cor Facho ardente de fogaréu-corredor Olho de candeeiro aceso em pavio crepuscular Claridade de lamparina no mar Era de assombração O olho-de-fogo que mãe falou Mas aquele que eu vi Foi fogo de gente, um olho de amor Era archote incandescente Brasas pelo ar Claridão que tem olhar de vidente Em seu alguidar Era uma fogueira cadente Chama de um quasar Quase a luz que liga o mundo da gente Ao lado de lá Desde então tô preso nesse olhar