Seu corpo é o resultado de cacos de azulejos de banheiros que invadi Nos tempos de desespero quando a cólera incendiava meus ouvidos E me transmitia mensagens obscenas me deixando vulnerável contemplando os grafites que vi nos mesmos banheiros e estampei em suas costas quando a minha língua passeava pela matemática exata das suas costas Seu corpo é o melhor companheiro pro meu desespero forjado em noites Solitárias quando eu ainda respeitava a lua que aparecia no céu enquanto eu murmurava um blues da minha trincheira abandonado embaixo da escada com acabeça alvejada uma sentença mortal pro meu abandono ( seu corpo) Seu corpo, taça de vinho abandonada em porões com coleções de discos de ragtime meu coração apertado quando meus pés me levam pro asfalto e pras escadas de edifícios com serpentes destemidas escapando dos buracos de lobo Seu corpo lembra estações de metrô abandonadas suor e sêmen afoitos ambicionados em corrimões Isabela Rosselini escapando nua e louca esmagando uvas na highway maldição bem vinda dos quartos de hotéis hélices de ventilador pás repartido pó e fachos de luz de vela Escancarando a marca que eu deixei esculpida em sua nuca Um corvo em silêncio para as sextas-feiras agitadas Meus sábados são rituais de espera Minha polução nas lâmpadas tênues Minha máquina de escrever conversando comigo Meus dedos de piano assassino esmagando teclas e deslizando em suas costas Eu só me aqueço dentro de você A dois passos do seu corpo eu sinto frio Quando eu sair de dentro de você minha alma swingará um blues ao pé da cama Antes de colocar os óculos escuros e pular pela janela E viverei o mais cruel e completo inverno Quando eu for, ficará a minha sombra Eu só me aqueço dentro de você Mário Bortolotto- Voz Marcos Scolari- Piano Flávio Collins Costa- Violino Neuza Pinheiro- Vocais