Pras bandas do meu passado, quando o verde era do chão Não tinha estrada, nem gado, nem ponte, nem estação O rio eu cruzei a nado, minha rota, minha monção Sem eira, beira, bandeira, quando juntei-me aos irmãos Não tinha sequer pecado, nem latifúndio cristão Meu povo, o povo calado, não tinha sequer patrão Comia o que era pescado da flecha, do alçapão As frutas do meu cerrado, o que hoje chamam bolsão Mas, eis que aparece aqui um povo sem coração Por vez, eu fiquei calado, sem rumo, sem direção Da porteira o cercado, da fazenda o sertão, pra viver fui obrigado Fui vaqueiro, fui peão, ouvia-se novo estado Em outros estado-nação Não entendia o pecado, nem sequer o tal perdão Portanto, era o chamado, pra cruz da contradição Mais tarde eu fui pistoleiro, fui mocinho, eu fui vilão Dos sinos do padroeiro, o aleijadinho sem mão Morava no formigueiro, parada na estação Eu fui camisa de couro, eu fui Maria Cenhão Do cemitério, o soldado, sou a própria devoção Menina, eu fui vaca-brava, da morte eu não temia De longe o trem apitava ao sol decorrer do dia Eu era a bala certeira, a provar da valentia Dancei os bailes da vida, cantei alegre o refrão Deixei o sangue na lida, meu canto fora do tom Da praça central-bandeira Da estação o trem partia No clarão da lua cheia, um lobisomem se via Correndo atrás do seu tempo, na noite longa e sombria Me faltou um parafuso, pra chegar nesta canção Por entre outras marias, a Maria macarrão