Vem por aqui, dizem-me alguns com olhos doces Estendendo-me os bracos, e seguros De que seria bom se eu os ouvisse Quando me dizem: Vem por aqui Eu olho-os com olhos lassos (E há, nos meus olhos, ironias e cansaços) E cruzo os bracos E nunca vou por ali A minha glória e esta Criar desumanidade! É não acompanhar ninguém Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre a minha mãe Se ao que busco saber nenhum de vos responde Por que me repetis: Vem por aqui? Eu prefiro escorregar nos becos lamacentos Redemoinhar aos ventos Como farrapos, arrastar os pés sangrentos A ir por aí Se vim ao mundo, foi Somente para desflorar florestas virgens E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faco não vale nada E como, pois, sereis vos Que me dareis machados, ferramentas, e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos? Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avos E vos amais o que e fácil Eu amo o longe e a miragem Amo os abismos, as torrentes, os desertos Eu tenho a minha loucura Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios Ah, que ninguém me de piedosas intenções Ninguém me peca definições Ninguém me diga: Vem por aqui A minha vida é um vendaval que se soltou E uma onda que se alevantou E um átomo a mais que se animou Não sei por onde vou Não sei para onde vou Ma sei que não vou por ai (Não enche) Me larga, não enche Você não entende nada E eu não vou te fazer entender Me encara, de frente É que você nunca quis ver Não vai querer, nem vai ver Meu lado, meu jeito O que eu herdei de minha gente Eu nunca posso perder Me larga, não enche Me deixa viver, me deixa viver Me deixa viver, me deixa viver Cuidado, oxente Está no meu querer Poder fazer você desabar Do salto, nem tente Manter as coisas como estão Porque não dá, não vai dá Quadrada, demente A melodia do meu samba Põe você no lugar Me larga, não enche Me deixa cantar, me deixa cantar Me deixa cantar, me deixa cantar Harpia, aranha Sabedoria de rapina E de enredar, de enredar Perua, piranha Minha energia é que Mantém você suspensa no ar Pra rua, se manda Sai do meu sangue Sanguessuga Que só sabe sugar Pirata, malandra Me deixa gozar, me deixa gozar Me deixa gozar, me deixa gozar Vagaba, vampira O velho esquema desmorona Desta vez pra valer Tarada, mesquinha Pensa que é a dona E eu lhe pergunto Quem lhe deu tanto axé? À toa, vadia Começa uma outra história Aqui na luz deste dia D Na boa, na minha Eu vou viver dez Eu vou viver cem Eu vou vou viver mil Eu vou viver sem você