Vejo nas luzes dessa madrugada Um clarão de lua encantada Que banha as águas do rio Caminho que o negro traçou E chegou nesses confins do mundo Sem benção de nosso Senhor. Dá licença pra esse malungo Que vem de tumbeiro do Congo Trazendo uma herança de fé. Na vinda compraram sua liberdade Mas trouxe no corpo a coragem, O jongo e o candomblé. Foi mão-de-obra nos canaviais Sem seus guias e seus orixás Perdidos no alto-sertão. E outros sofrendo as dores do açoite Morrendo a míngua na noite Nas senzalas da solidão. Corrente e suor misturados ao sangue Deixaram profundas feridas Cravadas em seu coração.