Outros lá fora dançando A festa daqui de dentro Que acaba sempre mais cedo Depois apenas o vento Sobre o telhado das casas E as ruas do esquecimento. Outros lá fora roendo A glória daqui roída Enquanto a morte põe flores Na mesa limpa da vida Porisso somos quem somos Talho que sara a ferida A razão da beleza é mais forte Do que as armas de tiros banais É porisso que amor e coragem Tem fogos iguais Que agasalham meu dia sereno Que já foi, que já é, que será Um diabo nos redemoinhos E a diferença justa e benvinda No que faltar É porisso que somos quem somos E a matraca já se envenenou Com as palavras que aprendeu dos sábios Jogados por aí E repete, repete e repete Sempre a mesma e sofrida canção Que promete, promete e promente: Profeta cego, luz que azucrina Na escuridão Outros terão em silêncio O grito que aqui se engana No que era louco e não era Mas disso ninguém reclama Apenas ouço a garganta Gemido de quem me chama Outros me chamam lá fora E eu lhes respondo por dentro Porisso somos quem somos Estrelas de um só momento Mas cujo brilho ameaça A ordem do firmamento