Inundação Mahalab E foi quando caiu o pano das janelas e o sol cascateou Sobre a sala entre os grandes batentes da alma Que entendi que a prisão em que estava doía E pior do que tudo, que com ela eu colaborava Mas saber desse jorro maior E do céu que azulava a manhã E até o próprio pó Que eu pisava Me invadiu como cavalos, estepes e um doce horizonte Pousou a mão de meu pai sobre minha cabeça E soprou em meu peito a maior voz que aquela terra Nunca tinha suposto ventar sobre si Me despi, me pintei e saí Em meus olhos um grito brilhou Minha alma alegrou A praça da aldeia E tomado de cor inundei um país Reuni meus irmãos, meu amor, minha raiz E se a brisa que bebo nas frestas que enxergo Me contou que, sem medo, Meu destino é abrir as fendas na vida É deixar de ser alguma promessa Enxergar no amanhã meu irmão Colocar mel e passas no pão É frutificar Mil jabuticabeiras E tomado de cor inundei um país Reuni meus irmãos, meu amor, minha raiz