Sair só com a cara e a coragem da casa dos pais Pra minha cabeça era barra pesada, Eu não quis. Deixar lá na sala burguesa o meu piano burguês E uma radiovitrola, santuário dos meus iê iê iês. Eu tinha pavor de um dia ter Que parar de sonhar Pra poder pagar o aluguel e pra me sustentar E perder regalias que os velhos me punham nas mãos Pra as minhas idéias serem retalhadas sem discussão. Bastou um emprego a me impor socialmente E uma conta bancária suficiente, Pra eu ter, então, liberdade e o respeito geral. Que diálogo é esse que tem preço e se vende? Eu quero é saber se a minha mãe me entende Após eu comprar meu diploma de filho ideal. Eu fui projetado por eles pra ser o maior, Um prêmio nobel, um filósofo, um embaixador. O menino brilhante e precoce que eles viam em mim Nunca admitiram ter idéias tão próprias assim. E há muitos anos eu sofro tentando explicar Que o meu caminho escolhido eles têm de aceitar. Podiam ter dado uma força, já que eu era incapaz De sair para o mundo com uma mão na frente, outra atrás. Bastou um emprego a me impor socialmente...