Mafalda Arnauth

Ora vai

Mafalda Arnauth


Quem põe o pé na rua, manhãzinha
Tropeça após um curto passo dado
Na estafa que nos dá esta vidinha
Que corre, sabe Deus para que lado.

E logo é ver quem vai mais apressado
Veloz, que o autocarro passa cheio
E sempre o fim do mês chega atrasado
Ao bolso que já está menos de meio.

O homem do quiosque dos jornais
Não fia nem noticias nem bons dias
Que o pouco que hoje leu já é demais
E há muito que não vai em lotarias.

O crime vai mudando de estatuto
Vagueia entre o temido e o banal
Enquanto não nos toca ele é só furto
Assim que nos ataca ele é fatal.

Lá p'ro meio do dia em vez da sesta
Almoça-se de pé e é se tanto
Tentando que o minuto que nos resta
Possa ainda esticar p´ra ir ao banco.

Não sei se é uma bênção ou ironia
Ouvir ao fim do dia alguém dizer
A frase apressada e fugidia:
"Então até amanha se Deus quiser"!

Cookie Consent

This website uses cookies or similar technologies, to enhance your browsing experience and provide personalized recommendations. By continuing to use our website, you agree to our Privacy Policy