São Gonçalo do Amarante Que é violêro dos bão Foi chamado pra uma disputa Pra resorvê uma labuta De viola com o cão São Gonçalo, tocadô De viola abençoada Foi chamado pra livrá A alma de um violêro Que na hora do desespêro Foi pará na incruziada Acendeu uma vela preta Na intenção do capeta Esse pobre violêro Se apegô na inlusão Que teno parte com o cão Teria os dedo mais ligêro As regra era as seguinte Desse terrível duelo Num ia tê parabelo E nem tê bala no peito As arma era as viola De dez corda, caipira E num pense que é mentira Essa minha conversa O diabo ia tocá São Gonçalo respostá Dispois disso, vice - versa São Gonçalo dava o mote O diabo no rebote Tinha que arrematá Dispois de tudo isso feito Levava a alma do sujeito Quem dos dois mió tocá Iam sê observado Pelo corpo de jurado Que as nota ia dá Os quesito analisado Pela mesa que assistia Ia sê a melodia Mão esquerda, mão direita Nessa parte, o capeta Já saiu na diantêra Pra desespêro do cabôco Que ia veno aos pôco Sua alma na foguêra Chegô a vêiz de São Gonçalo Rebatê o caramulhão Pegô a viola no chão Encostô ela no peito E sem tê nenhum defeito Terminô sua função O diabo encabulado Pôis a viola de lado Enquanto isso os jurado Dava a pontuação Era a vêiz de São Gonçalo Começá o seu ponteio Foi solano inté o meio Do braço da violinha A mão ia, dispois vinha Na maió das ligerêza E o diabo com tristeza Sem sabê cume que pode Tocá tão bem esse santo Que pra causá maió espanto Terminô com um pagode O capeta indignado Foi tirá satisfação Como o santo violêro Tem os dedo tão ligêro Sem tê parte com o cão? São Gonçalo então falô Que teve bão professô Que teve boa escola Disse que quem lhe ensinô Foi Deus, Nosso Senhô Que tamém toca viola A alma do violêro Finalmente foi liberta E a paisage deserta Que ladiava seu esprito Virô um campo bunito Graças a Deus e São Gonçalo Violêro criô calo Bem na ponta dos seus dedo Quando descobriu o segredo Pra sê um bom tocadô Tê amô pela viola Pegá nela todo dia E tocá com alegria Esqueceno toda dô O capeta dispois disso Já num toca e nem canta Pois viu que é coisa santa A viola caipira Cês pensa que é mentira Mas isso que aconteceu Eu vi tudo de perto Sei que o relato é certo Pois o violêro sou eu.