Fiz um rancho barreado Da cidade bem distante Beirando o Sapucaí De belezas deslumbrantes A cerca fiz de bambu Cortei na Lua minguante Se cortar na Lua boa Ele não caruncha à toa Por isso dura bastante A fartura que eu tenho De tudo é abundante Horta adubada de esterco Não uso fertilizante Rapadura no café Não precisa de adoçante Plantei até uma touceira Boa de erva cidreira Me serve como calmante Água brota lá nas pedras A polegada é constante Vem de queda natural Chega pura e cintilante Guardo carne na gordura Esse é meu conservante Tiro leite com fartura Pra fazer manteiga pura Eu mesmo sou fabricante Às vezes saio à noitinha Quando a Lua está brilhante Na canoa de um pau só Que só cabe um tripulante Eu levo uma fisga boa Afiada e cortante Nas moitas de caeté Onde esconde o jacaré Chego por trás da vazante Com essa vida que eu tenho Vou levando a idade adiante Sei que a vida na cidade Não compara a do sitiante A minha felicidade Não tem nada que espante Sertão bordado em ouro É o mais rico tesouro Meu precioso diamante