Quando ainda era criança, numa noite do passado Eu vi um clarão de fogo lá na mata do cerrado Meu pai falou:-Não se assuste é algum mourão queimado Que restou de uma fogueira no preparo do roçado Pode parecer bobagem eu lembrar coisas assim São pequenas grandes coisas que guardo dentro de mim Na fumaça dos meus rastos por dezenas de verões Deixei longe aquele fogo Na distância dos sertões. Mourão queimado junto aos sonhos de um menino No cerrado do destino se fez cinzas como eu sou Cinzas do tempo na fogueira da lembrança Eu sou cinzas da criança Que o passado conservou. Pelo cipoal da vida num sertão que não tem fim Vim vivendo e vim morrendo Vim buscando alguem pra mim Este amor que eu procurava logo assim, que eu encontrei Entre as chamas traiçoeiras dos seus olhos me queimei Sou mourão esfumaçando como aquele do roçado Que eu vi, quando criança lá na mata do cerrado Só que aquele incendiou-se pelas mãos de um lavrador E eu fui incendiado pelas chamas do amor