Luis Represas

Sombras

Luis Represas


Sorrateiras sombras entre o nevoeiro 
Esgueiram-se furtivas sem deixar vestígio 
Fogem quando os uivos das sirenes frias 
Como o azul que deitam lhes aguça a vida 

Nem o frio conta como companhia 
O orvalho borda a colcha de uma cama fugidia 
Os dias ao contrario são as noites do avesso 
São as febres ao começo do inferno em delírio 

Às vezes têm fome de saber ter fome 
E gritar por quem a fome lhes sacia 
Ou o medo esmaga comum beijo quente 
E com uma carícia adoça a angustia de ser gente. 

Os olhos vêm longe quando estão fechados 
E até lhes trazem cheiros que há muito não sentiam. 
Há muito não é tanto porque o tempo ainda é pouco 
e enquanto os olhos sonham não lhes dão cuidados. 

Sentem-se insensíveis e desafiantes 
Nada, nem os homens, pode causar dano 
A vida não ficou pior do que era dantes