Luis Represas

Proscritos

Luis Represas


Descaíram braços 
ficamos sem contar o resto 
que se passou outrora 
apagamos traços 
ficamos sem notar os vincos 
na carne da memória 

Já tapamos os quadros 
aconchegamos os lençóis 
das figuras principais 
e beijamos as testas 
remetendo p´ra bons sonhos 
as lembranças ancestrais 

Somos proscritos 
senhores da face escura dos sois 
já nos quiseram benditos 
já nos amaram como heróis 

Até já 
não suportamos tanto 
voltamos já 
desarrumados do canto 
já é depois 
somos os filhos do espanto 
já estamos cá 
ainda nos resta um encanto 

Como demónios vamos 
Sobrevoando as partituras 
das cabeças geniais 
como toupeiras vamos 
adivinhando com angústia 
os passos débeis e finais 

Estaremos já 
De pés e mãos atados 
A um conforto qualquer 
Ou então esquecemos 
Que viver merece a luta 
Que merece uma mulher