Luis Represas

Não Me Atrevo

Luis Represas


Não me atrevo a adivinhar o que tu sentes 
Quando tens quatro paredes por morada 
E lá fora sabes que és mais um ausente 
Que um dia apostou na carta errada. 

Não me atrevo sequer a falar das horas 
que tu passas conversando com os segundos 
que te ouvem quando às vezes te demoras 
a pensar se há mundo entre os nossos mundos. 

Não me atrevo a imaginar p´ra onde vais 
quando partes navegando pelos sonhos, 
quando voltas à frieza deste cais 
à distante realidade que nós somos. 

Não me atrevo a adivinhar a vida inteira 
que tu passas em revista a cada dia. 
Os momentos que tu lanças p´rá fogueira 
e as memórias que tu guardas por mania. 

Quando um dia me puderes ir visitar, 
não te vires para trás nem um momento. 
Segue o caminho que te leva à beira-mar 
dança com ele e faz de conta que és o vento. 

Não me atrevo a caminhar pelos teus pés 
que regressam sempre ao ponto de partida 
que te levam por caminhos que não vês 
e te acordam junto à porta de saída. 

Não me atrevo a perguntar por quem te espera 
quando chegar a hora de matar saudades. 
Espera-te o mar, porque esse nunca desespera, 
e te ensinou como é amar a Liberdade