Luis Represas

Guaguancó y fado

Luis Represas


Havia um mar de olhos postos 
Num quadro já repetido 
Que tinha o céu por moldura 
Num temporal mal contido 

Os corações apertados 
Nos peitos nus, reluzentes 
Uns de morte angustiados 
Outros sorrindo prudentes 

Quem chegava era por certo 
Gente devota e austera 
Era branca como a cera 
Que ardia a céu aberto 

Tinham santos como os meus 
Feitos de pau e madeira 
Rezam da mesma maneira 
A uma cruz que chamam Deus 

So,os almas descobertas 
Por quem descobrir é pecado 
Às vezes trazem-nos setas 
Mas também nos cantam fado 

Entre temores e anseios 
O sangue juntou-se então 
Naquele Deus eu já creio 
Eles nos meus ainda não 

Agora há dois olhos postos 
Num quadro já consumido 
O mar guarda o meu recado 
E o vento, o tempo perdido.