Luis Represas

Ao Canto da Noite

Luis Represas


Ao canto da noite 
Esperava o dia 
Que fossem horas de a ver chegar 

Ao canto da noite 
Já desesperava 
Em todos os cantos que deixou p´ra trás 

Esperava como dia 
Como tarde 
Ou até como amanhã 

Esperava ao ver-se ontem 
já levado em braços 
Pelo pôr do Sol 

Ao canto da noite 
Já ninguém ficava 
A fingir que faz poemas a ninguém 

Ao canto da noite 
Já ninguém deixava 
Fugir desabafos por perder alguém 

Só quem passasse 
E olhasse para o nada 
Via um vulto que se esconde 

Por trás do nada 
O dia espera 
Como escravo do horizonte 

Espera 
No fundo do canto da noite 
Foge 
P´ra longe do canto da noite 

Ao canto da noite 
Pensava o dia 
Que se podia um dia apaixonar 

Se houvesse outro dia 
Que para ele olhasse 
E se deixassem os dois abandonar 

Ao canto de uma noite 
Sem ter medos 
Sem ter regras a cumprir 

Depois fugir do canto 
Sem destino 
Sem ter rotas a seguir 

Já se ouviu contar 
Que nesse canto mora a alma 
De outras tantas almas 
De outros cantos 
De outras noites