Luis Represas

A Hora do Lobo

Luis Represas


Se todos os desejos fossem medos 
E todos os teus gritos vagabundos 
E todos os teus gestos só enredos 
De uma novela fora deste mundo 

Se todos os teus choros fossem raiva 
E os dedos fossem pontas de navalha 
Os olhos, de repente, a luz que crava 
A lança quando o coração te falha 

Se a luz do teu sorriso fosse fogo 
E o som da tua voz fosse um punhal 
Que brilha ao escuro na Hora do Lobo 
Quando um suspiro sopra um vendaval 

Espero por ti 
Na Hora do Lobo 
Quando as nossas sombras são iguais 
Espero por ti 
Na Hora do Lobo 
Se estamos juntos não somos demais 

Se todos os teus passos fossem grandes 
Correndo todo o mundo num só salto 
E os braços fossem asas esvoaçantes 
Da Águia que vigia lá no alto 

Se todas as fraquezas fossem forças 
Daquelas que rebentam as muralhas 
Que crescem pelo meio das tuas rotas 
E que te põem dentro das batalhas 

Se toda a tua vida fosse tua 
E o teu destino fosse teu refém 
Se a Terra toda fosse a tua rua 
E a tua rua fosse de ninguém