Luis Carlos Borges

Peão do meu bagé

Luis Carlos Borges


Cabeça de égua, pescoço invertido, paleta parada
Lombo de cacimba e anca descarnada que baita botada deram no patrão
Olhando de frente falta quase tudo olhando de trás parece um burrichó
Isso é um caranguejo e pensam que é um cuiudo zóio de mutuca, goela de socó
Não alcança um boi, não pecha uma galinha não cincha uma lebra
Cuiudinho quebra da boca de grota bicho que da doma não tem nem notícia
Inda é cabuloso e quando arrasta o toso vem buscando a volta pra pisar o paisano
Pobre da peonada que daqui a alguns anos vai ter que encilhar os filhos dessa imundícia
(Ai, ai, não sou malvado, mas pra esse infame cobiço um pealo
Uma faca nas bolas, botar na carroça e vender pro salame
Eu conheço muito estancieiro tronqueira velho mão de vaca
Com uma cruzeira dentro da guaiaca mas este arataca é de se respeitar
Com tanta cabanha criando crioulo e levando pra Esteio uns cuiudos de estouro
Em vez de abrir o bolso no freio de ouro foi comprar este sorro, pra economizar
Quando o cuiudinho saiu tropicando junto co'a manada
Estragando tudo aquela rica eguada me tapei de nojo e vou dizer porquê:
A vida tá braba mas vai se levando só não se admite um peão do meu bagé
Encilhar um cavalo, quebrar bem o cacho se mandar pro campo e voltar de a pé