Às vezes fico calado Revivendo o passado Disfarçando a solidão Tem horas que até duvido De um dia ter vivido Com tanto amor e afeição Nosso lar era perfeito Havia paz e respeito Com meus pais e meus irmãos Nossa família feliz Cantava moda raiz Com a viola na mão Mas pra roubar nossa paz A doença do meu pai Mudou nossa direção Este fiel Sol fogoso Se escondeu vagaroso Com seus raios avermelhados A Lua silenciosa Veio espiar curiosa Pela fresta do telhado Cabisbaixa no fogão Mamãe fez uma oração Pelo alimento sagrado E num bancão de madeira A nossa família inteira Foi sentando lado a lado Oh! Meu Deus quanta tristeza Na cabeceira da mesa Um lugar desocupado Diante daquela cena Confesso que senti pena Quando ouvi mamãe falar Onde está meu companheiro Nosso velho conselheiro O ordenante do lar O grande amigo e parceiro O trovador seresteiro O cantador do lugar Pra disfarçar a tristeza Pôs a toalha na mesa E foi servir o jantar Dos olhos daquela santa Vi no seu prato da janta Duas lágrimas pingar Me perdoe pai querido Mas juro que não consigo Dar fim nas coisas de outrora Nossa casa de madeira A espingarda cartucheira O pilão e o pé de amora Um toco de vela branca Que acendeu pras crianças No altar de Nossa Senhora Nosso bancão de madeira O fogão e a prateleira A viola e o par de espora São relíquias do passado Que pra nós foram deixados Quando você foi embora