Eu estava no alto da serra Quando vi uma boiada passando Recordei longínquo passado Ao ouvir o berrante repicando Senti uma pontada no peito No meu coração machucando Relembrei o passado risonho Que no tempo foi se distanciando Ressurgiu nesta mente cansada Tudo que para trás foi ficando O saudoso tempo de peão Que hoje tão só vivo recordando Tempo ingrato que tudo se apaga E no peito só faz cicatriz A saudade deste boiadeiro No presente me faz infeliz Eu guardei o diário da mente As proezas que um dia fiz A idade que avança e não para Vai cumprindo o que o ditado diz Vai matando o sonho de quem Pelo fim a vida por um triz Judiando o velho boiadeiro Que esta vida um dia tanto quis Hoje guardo meu velho berrante O meu laço de couro trançado Minha chilena de sete dentes Lá no prego deixei pendurado O meu basto sorocabano O meu pingo no campo largado São lembranças que faz reviver Com tristeza meu tempo passado Quem já foi um bom boiadeiro Hoje leva no peito guardado A paixão que machuca e fere O pobre peão triste magoado