Correndo com meu alaúde e o meu cavalo Ele tá com calo, sou o zé ferrado Perdi meu cigarro bem longe daqui Já fui desacreditado, morto, sepultado Feito de escravo, expulso do mundo Já fui vagabundo, roubei e menti Porque desde que nasci eu tô fazendo besteira Odiado e desprezado na cidade inteira Minha cabeça vale um copo de cerveja Um brinde ao meu nome e à minha grandeza Eu não tenho arma de fogo, tenho canivete Que eu ganhei no bingo quando era pivete Minha antiga glória há tempos perdi Eu lembro que eu tinha um sapato, um lindo sapato Mas eu fui roubado, sou o zé lascado Eu já tô cansado de tanto fugir E mesmo com a pele ardendo em brasa Sou somente um forasteiro a caminho de casa Papai sempre dizia: Cuidado com o amor É a pior das maldições, te dá remorso e dor Procuro a minha sereia nesse mar de areia Ela incendeia esse peito meu, nela se perdeu Provei da maçã Meu cavalo já avisou: Parceiro, se ferrou Esquece essa mulher, coisa boa não é Come teu coração no café da manhã Eu não faço ideia do que ocorre comigo Um baita de um azarado, amante do perigo A morte me chama, chama o meu nome O caos me persegue, ele me consome Eu sempre tô correndo atrás de tudo que me faz Um alegre rapaz e aprendo sozinho Já tô bem grandinho e sigo meu nariz Eu vou vender meu alaúde, comprar uma pistola Fugir da escola, e pedir esmola Artista não rola em nosso país Sol maldito fez minha cara vermelha Vocifero palavrão pra quem me der na telha Lixo da sarjeta, cara desgraçado Não é à toa que me chamam zé ferrado