Lindomar Castilho

Muralhas da Solidão

Lindomar Castilho


Mãe
Eu recebi suas lembranças e me
Senti uma criança ao receber sua benção
Mãe
Aí senti a realidade do quanto dói uma saudade e quanto sofre um coração
Mãe
Eu por aqui vou indo bem, eu por você rezo também, minha mãezinha santa que é
Mãe
Do silêncio que é seu grito, do seu amor que é infinito fiz minha profissão de fé
Aqui é tão difícil a liberdade, só a injustiça e a falsidade andam passando os horizontes
Mãe
Aqui qualquer nervo de aço se transforma em mil pedaços pela rotina massacrante
Mãe
Aqui tudo é diferente, eu vivo em meio a tanta gente e me sinto só, com a minha dor
Mas essa dor eu a transformo num sorriso, meu inferno em paraíso ao plantar na lama e colher uma flor

Seis horas apaga se a luz de mais um dia
Na tarde tristonha o sino tange momentos de orações - Ave Maria
Tudo vai ficando quieto
Só na cidade se ouve aralidos, burburilhos de carros, metros e sons coloridos
Chegam com a gargalhada de uma criança
E assim todo nosso ambiente vai se fazendo mais cercado e silente pelas muralhas da solidão e da desesperança
Nove horas, a sentinela lá da sua guarita distante sobre um dos portões fortes e gigantes inicia o toque de silêncio em seu clarim
O cerco da solidão vai se apertando à medida que as luzes vão se apagando
Noite dos fantasmas e tenebrosa dali
Mãe
Tenho que parar, por que agora por aqui tudo é silêncio