Leôncio Severo

Romance Do Pingo Baio

Leôncio Severo


Junto à janela florida,
Ante a sombra mansa
Da velha figueira
Sempre que volto das tropas
Meu olhar se topa
Com a china trigueira
E o baio parceiro de lida
Conhece minha vida
E o meu coração
E sabe que naquele olhar
Flutua um luar
De amor e paixão

Esse ranchinho barreado
Fica no costado
Da estrada que passo
Ouço a cigarra estridente
Cantar num repente
Me roubando espaço
O vento apagando as marcas
Do casco do baio levantando pó
Insisto de cabeça erguida
Mas de alma ferida,
Por viver tão só

E foi num final de tarde
Que fazendo alarde,
Meu baio estradeiro
Parou na frente do rancho
E assim de carancho
Tranqueou pro terreiro
Surgiu da janela florida
Dois olhos tão lindos
Quanto a madrugada
E o baio escarvando faceiro
Ofereceu a anca
Para a china amada.

Que num relance de sonho
Saltou da janela
E montou num upa
E o baio sentiu-se completo
Quando meu afeto
Pesou na garupa
Hoje fico até enciumado
E o flete estimado
Me sacode a crina
Quebrei o queixo de um mouro
E baio de estouro,
Regalei pra china