Vou viver a vida, Sempre amando tanto, Com estes dois olhos, E quando os abro, Defeitos extingo, Do negro e do branco, E nos altos céus, Seu fundo estrelado, E nas multidões, Vejo a mulher que eu amo. Gracias a lá vida, Que me há dado tanto, Tenho dois ouvidos, O que quero escuto, Gravo noite e dias, Grilos e canários, Martelos, turbinas, Ruídos, chocálhos, E a voz tão eterna, De um amor amado. Gracias a lá vida, Que me há dado tanto, Tenho sentido, Do abecedário, Com simples palavras, Eu penso e declaro, Ai, amigo mano, E os que estou, criando, Lá botando n'alma, Do que estou amando. Agradeço a vida, Que me tem dado tanto, Me dá sempre força, Pros meus pés cansados, Com eles descubro, Cidades e charcos, Praias e desertos, Montanhas e lagos, E na sua casa, A sala e o quarto. Gracias a lá vida, Que sempre fez tanto, Fez um coração, Que agita o sangue, Pra regar as flores, Do cérebro humano, Cérebros fecundos, Que dão frutos raros, Que eu vejo no fundo, Dos teus olhos claros. Gracias a lá vida, Que sempre deu tanto, Da panos pra vista, Enxugar os prantos, E assim se distingo, Feitiços, quebrantos, Descubro as coisas, Que foram meu canto, O canto do povo, É soberano canto, E o canto dos povos, Lamentosos prantos, E o canto de todos, É o meu próprio canto.