Hoje eu vou deixar o meu sertão, seu moço Vendi meu úrtimo pedaço de chão pro fazendeiro do lugar Vou dar a minha úrtima olhada na lavoura e na invernada Sei que muito pouco eu vou levar Vou juntar o pouco que me resta Jogar fora o que não presta, tristeza eu sei que vou chorar Óia aqui eu passei a minha infância, todo o meu tempo de criança E eu sei que não vou mais voltar Aqui era a fazenda seu moço Aqui eu passei alegria e desgosto, mas não deixei nada faltar Mas com o passar dos anos chegou o meu desengano Que até me dá tristeza de falar Óia essas mãos calejadas aqui seu moço! Foi no cabo de uma enxada que eu consegui tudo plantar Hoje eles vêm lá da cidade do banco de uma faculdade pra tomar o meu lugar Não é que sou contra a evolução, seu moço, pelo contrário Mas a cabeça e o coração demora um pouco pra aceitar Agora tô indo morar lá na cidade muito contra a minha vontade Pois só eu sei o que vou encontrar Mas entrego nas mãos de Deus o futuro de todos os meus Só ele vai saber me orientar Sinto saudade da batida da porteira Sinto saudade do cantar do passarinho Sinto saudade da vida sertaneja Sinto saudade porque agora estou sozinho Olho no espelho os meus cabelos branquearam Sinto cansaço neste corpo boiadeiro É o peso dos anos que passaram Na minha vida já passou tantos janeiros Eu fico triste quando vejo uma boiada Um caminhão cortando o asfalto sem poeira E nesse instante dou um pulo ao meu passado E quando volto estou chorando de tristeza Estrada velha, estrada boiadeira Estrada velha cheia de poeira Tanta saudade que você me traz Daqueles tempos que não voltam mais