Madrugada Labaredas na calçada Uma chuva fina e chata cai E a cidade vira um campo minado Cumpro apenas o meu trabalho Que é circular por becos E desertos e botecos e lugares e Enganos e avenidas engarrafadas Ler mensagens retorcidas nos faróis Que explodem como granadas nos Olhos de quem vem Residências, lojas, hotéis e Restaurantes Eu cresci nessa rua Eu me lembro Eu ainda me lembro Vejo um anjo e um demônio Vindo em minha direção Acendo o meu cigarro e digo Hey, qual de vocês veio me levar? Cumpro apenas o meu trabalho Que é circular pelo bairro À procura de um pretexto Ou de um motivo qualquer Mas que nada, chuva fina na calçada Passo em frente à minha escola Velhos fantasmas empapados em suor e sangue Velhos hábitos e embalagens de plástico Sobre o rio Tietê Tão bonito e fétido Ah, granada! Terra santa e desgraçada Quintaúna dos meus sonhos e meus pesadelos Fogem como sombras aos seus pés Labaredas na calçada E uma boca de batom Ela ainda é uma criança e me diz Oi, perdido, você quer me levar? Velhos hábitos Cada noite tem seu hálito Ah, minha granada Eu sou o seu dilema