Pera aí, que eu vou te contar o que poeta me falou e cê não vai acreditar Não vai acreditar o que os olhos não conseguem enxergar O que as pontas desses dedos não conseguem alcançar A vida é um acaso, um caos, indiferente Todo dia nasce gente, todo dia morre gente Nos apegamos, fantasiamos tragédias Pela ilusão de estarmos no controle das rédeas Acordo, visto a máscara e parto pra luta Vivendo em conflito, uma eterna labuta A sensação de estar fazendo tudo de errado Gastando vida a toa, a cada dia acabado Um terço da vida passo dormindo, deitado Outro terço ajudando o patrão trocar de carro Sentindo a alma gritando, sofrendo Sorrindo por fora e chorando por dentro Surpresa, estamos todos mortos Olho daqui não vejo vida, somente corpos Se arrastando entre o concreto e o asfalto Manipulados, bitolados, anestesiados Pensando num futuro que nem sei se vai chegar Gasto o meu presente sem sair do lugar Girando, patinando, tentando me iludir Deixo tudo pra amanhã, porque hoje não dá Nos ensinaram a querer antes de crescer E com isso acabamos esquecendo de viver Focado nos bens, quero ser, quero ter Status, fama, lucro e prazer Superficialidade transborda em almas rasas Dilúvio de ideias que não servem pra nada Encho a casa de coisas de que não preciso Encho a mente de ódio das coisas que assisto Sorrisos amarelos escondendo tristezas Almas vazias e copos cheios sobre as mesas Dia após dia me mato pra não morrer Deixando de viver pra conseguir sobreviver Somos a dúvida constante da existência, todo dia é um novo fim Somos traduções mal feitas de nós mesmos, enfim Não compreendemos o que somos Não achamos a saída Somos instantes na estante da vida Felicidade, tristeza, satisfação Ideologia do pecado o conforto do perdão Consumindo o podre, desprezado pelos próprios Fantasiando o futuro e existindo no passado Deixando de viver o presente pra erguer o castelo errado Pera aí, que eu vou te contar o que poeta me falou e cê não vai acreditar Não vai acreditar no que os olhos não conseguem enxergar O que as pontas dos meus dedos não conseguem alcançar