Coisas precisam morrer para que outras nasçam Árvores podadas para poderem dar frutos Placentas, corpo, organismos não orgânicos Sintomas de dor, da morte, vida sabe? E se a força não mais estiver lá Sei que não fraquejei e você há de lembrar Um dia as minhas pernas não vão mais me aguentar E cada passo que eu der, menos enxergar No momento minha voz rouca, nada vai soar Luta por mim! E quando minhas mãos não puderem mais segurar As suas mãos nas minhas... Não é pra soltar Sei que não estive só, me resta confiar Luta por mim! Quero que continue a subir Mesmo com a ideia de me ver partir Olha só o que eu construí As palavras tortas, eu não me arrependi Se eu tivesse um pedido seria Luta por mim! Agora 'cês não vão me esquecer, né? Fui imortalizado com um mural na Paulista 'Cês nunca colaram no meu show Mas agora usam meu nome pa' pedir por justiça! Nunca nem me ouviram, mesmo que eu gritasse, mas agora que eu virei estatística 'Cês vão usam meu nome e minha imagem pa' pedir pelo fim da polícia e Se eu morresse hoje, amanhã era notícia, mas quem eu era isso ia ser questionado E quê que eu fiz pa' tomar três tiro' no peito? Preto na rua de noite com certeza era algo errado! Virei postagem na sua rede social 'Cê lamentou e escreveu sobre a repressão policial Sua hashtag foi o ponto final Dizia Vidas Negras Importam, pra você isso foi diferencial É que é toda vez a mesma merda 'Cês matam eu de carne pa' fazer eu de pedra Movidos pelo tesão por tragédia Agora morto eu tenho mais voz do que vivo, parece comédia! Deixa minhas lembrança' p'os meus Deixa minha mãe chorar minha morte, vê se não interfere! Que 'cê num entende porque um de nós morreu E o quanto dói ser invisível pela cor da sua pele Não fui criado pa' agradar sua raça E memo assim 'cês lamentaram porque eu parti cedo Mas eu já te trombei em vida E mesmo sem ter feito nada 'cê mudou de calçada por medo Não quero meu nome no seu protesto dentro da sua faculdade onde é raro ver preto Nós não habitamos os mesmos lugares 'Cê falar que sente o mesmo que os meus não é normal E só lembrar que preto existe quando morre É aceitar que ou preso ou morto já é algo cultural 'Cês não vão mudar porra nenhuma Mais um corpo preto no chão e não muda porra nenhuma Descartável igual o cigarro que 'cê fuma Pra você foi só mais um e não muda porra nenhuma 'Cês não vão mudar porra nenhuma Mais um corpo preto no chão e não muda porra nenhuma Descartável igual o cigarro que 'cê fuma Pra você foi só mais um e não muda porra nenhuma (porra nenhuma) Quero que continue a subir (Mais um corpo preto no chão e não muda porra nenhuma!) Mesmo com a ideia de me ver partir ('Cês não vão mudar porra nenhuma!) Olha só o que eu construí (Mais um corpo preto no chão e não muda porra nenhuma!) As palavras tortas, eu não me arrependi ('Cês não vão mudar porra nenhuma!) Se eu tivesse um pedido seria Luta por mim! Se eu tivesse um pedido seria Luta por mim! Eu não vou morrer Eu não vou morrer Eu não vou morrer Eu não vou morrer Eu não vou morrer Eu não vou morrer Eu não Eu não Eu não vou morrer Eu não Eu não Eu não vou morrer