Resolvi mexer numa caixa antiga, que até hoje abriga as tralhas do pai São tralhas de pesca e seus apetrechos, raramente eu mexo no tempo que faz Por baixo da tampa anzol e carretilha, que até hoje brilha todos os seus metais Conforme eu revi e vejo essa tralha, imagino a batalha de tempos atrás Num canto da caixa em pé um facão, linhada de mão já bem ressecada Canivete corneta em aço carbono, em total abandono com a ponta quebrada Achei o seu bule de coar café, e até a colher que guardou mal lavada Achei lado a lado as latas juntinhas, de açúcar e farinha com a tampa enferrujada Achei bem fechado a caixinha de isca, a binga de faísca e palhas do paiero A rede enrolada bem suja amarela, junto com a tela do seu mosqueteiro Achei a lanterna e os carburetos, no fundo os gravetos do seu fogareiro Também os cartuchos balote e as buchas da velha garrucha de baque certeiro Também encontrei já bem acabado, o seu samburá cheio de cupim Nem eu acredito que achei o seu pente, faltando alguns dentes todo em marfim Com essa lembrança que a tralha me deu, meu pai reviveu aqui hoje em mim Daqui por diante só resta saudade e a eternidade ao chegar meu fim