Lá no barraco, me despertam bem cedinho E me colocam a caminho, com destino ao lixão De cara suja, sonolenta e despenteada Vou saindo em disparada, pois já chegou o caminhão São toneladas de lixo pra revirar E quem sabe, eu possa achar alguma coisa interessante Um sapatinho, uma blusa, até comida Eu juro que em minha vida, jamais fui a um restaurante Vou separando: vidro, ferro e papelão Latinhas tem de montão, vai me dar um bom dinheiro Tenho limites, não posso me distanciar Meu maninho quer mamar e chora de desespero Meus pais se foram, estão lá do outro lado Por certo, bem ocupados, nessa montanha nojenta No dia-a-dia, eles não estão sozinhos Com eles, todos vizinhos, nesta luta violenta Meus nove anos, esta é a minha infância Brincadeira de criança? Não conheço! Como é? Já lavei roupa, também encerei o chão E pilotei o fogão, no preparo do café Meus governantes, olhai para a nossa gente Esse povo tá carente, quer uma oportunidade Eu quero escola, no estudo, eu capricho Me tirem logo do lixo, eu peço dignidade.