Sou um boiadeiro centenário e aqui vai a minha história Os causos que eu vivi, trago vivos na memória Conheci todo o Brasil, fui carreiro, fui peão Convivi com personagens deste querido sertão Pra começar minha prosa, vou contar essa passagem Lá no Estado de Minas, fui fazer uma viagem Sou aquele boiadeiro, que na estrada de Ouro Fino Na passagem da porteira, dava moeda ao menino O fato que presenciei, me deu uma dor tamanha Quando eu passava a cavalo, lá no alto da montanha Corri chamar o seo doutor, pra ver tudo com clareza A morte de uma mulher, a tal... cabocla Tereza Também lembro desse caso de muitos anos atrás Foi lá no sertão goiano, eu era o capataz Numa Festa do Divino, aquele tiro certeiro Acabou tirando a vida do amigo Chico Mineiro Sou um daqueles que um dia, derramou pranto de dor Ao perder um grande amigo, que morreu por tanto amor Essa história, seo moço, mexeu com a gente, de fato Emudeceu o sertão, ao morrer Chico Mulato Aquela cruz de madeira, finquei na beira da estrada Tá coberta pelo mato, pois ficou abandonada Esse dia eu não esqueço, pois cortou meu coração Foi ali que sepultei, preto velho... Pai João Dia triste foi aquele no atalho da represa Eu caí na perambeira, com a minha linda Princesa Com esse acontecimento, chorei mais de uma semana Por ter que matar a tiros, a minha Besta Ruana Parece até que foi ontem, vou contar bem direitinho A tragédia que eu vivi, no campo do Espraiadinho Até hoje, ainda sinto uma friagem na espinha Lembrando do potro xucro, que matou o Ferreirinha Na cidade de Barretos, você ainda tá lembrado? Era eu o boiadeiro que tocava aquele gado No estouro da boiada, minha calma só voltou Quando abracei o menino, que o Soberano salvou Você já ouviu falar do Araguaia afamado Quando a boiada nadou, até chegar do outro lado Eu que dei ordem ao ponteiro e ele me obedeceu No ataque das piranhas, só o boi velho morreu Gostava tanto de gado, que fiz disso... profissão Quando eu via um boi doente, cortava meu coração Fui um herói sem medalha, neguei o pedido de um homem Não tive coragem bastante, pra salvar o boi Lobisomem Minha lida com boiada, um dia chegou ao fim Bem no pé de uma porteira, aquela coisa ruim Chuva e sangue misturaram, fazendo a maior desgraça Morreu meu filho querido, nos chifres do boi Fumaça Tudo isso que eu contei, fez parte do meu passado Lembranças de boiadeiro, trago num saco, amarrado Todos os meus apetrechos, são para mim um tesouro Não dou, não vendo, não troco, nem por dinheiro Nem ouro.