Eu ouço a sanga da aguada Cantando para o potreiro E o humilde guitarreiro Batendo corda cansada Escuto o cair da geada Enquanto canta basteira Ouço o ranger da porteira Princípio e final da estrada Gritos de parar rodeio Assovios de recorrida Eu ouço o marcar do freio Porque eu nasci dessa lida Voz de pai trabalhador Que de mim nunca se foi Na reza do amansador Chamando o nome do boi Silêncios trago da ronda Da marcha trago o compasso Graves de antigas milongas Agudos timbres de aço Ressonos da cacimbas O assovio das perdizes Eu ouço um rio de águas limpas Beijando rama e raízes Herdeiro das vibrações Premiadas pelo silêncio Trago esta caixa de sons Minha riqueza do avesso Na bruta transformação De ouvir mais o que conheço De andar tão longe do chão E tão perto do começo Eu vim de um mundo de sons E cantares tão bonitos Onde cada vibração Vira canção no infinito Do berro, trote, tirão De causos, rezas e ritos Conheci a voz do meu chão Quieto que eu acredito