I - ...cantamos pessoas vivas... É por aqui que se começa Pelas palavras simples Recusando a amargura Nas margens do poema Pelas pessoas vivas É por aqui que se começa Pela fúria de começar Com a voz em liberdade Sem muralhas no olhar Cantando pessoas vivas É por aqui que se começa Pela fúria de começar Usando palavras simples Cantando pessoas vivas Ensinando-as a pensar II - Onde... Quando percorro as margens deste rio Jogando letra a letra, verso a verso As idéias que hora a hora, dia a dia Me repetem, me ensinam O caminho do processo Hora a hora, dia a dia, verso a verso... Quando escrevo nas paredes o teu nome E sinto intensamente à flor da pele A estranha sensação de quem encontra Esse nome, o teu nome Voando no papel O nome do meu hotel, liberdade... Quando passo pela ponte deste rio A quem também chamei de Rio Dourado E sinto intensamente a alegria Me encontro, e renasce em mim O canto da verdade O espelho da verdade, que me invade... E parto a pensar no meu regresso E volto a pensar na despedida Acordo no país a que pertenço E aprendo, e repito A palavra proibida A palavra esquecida, liberdade... III - Quando... Quando o branco da neve se confunde as ondas Quando a nafta das ondas dissolve no mar Quando os corpos flutuam perdidos no vácuo E regressam sem nexo ao secreto lugar Quando idéias se fixam na minha memória Quando o som dos meus passos ecoa no ar E os sonhos se perdem no fundo do meu ser Me conduzem as portas do secreto lugar Onde Quando Como Porquê Cantamos pessoas vivas! Quando um povo vivia na noite distante Avançando pesado, lento e devagar Sonhando encontrar o limite da vida Neste calmo, tranquilo e secreto lugar Sono calmo, tranquilo, trancado e coberto Me recordo com raiva de me contentar No espelho perfecto dessas paredes No meu calmo, secreto e futuro lugar Onde Quando Como Porquê Cantamos pessoas vivas! IV - Porque... Porque os ponteiros do tempo não pararam Nas torres das igrejas, nem ruína E avançam calados...e discretos... Um pouco para baixo, um pouco para cima Porque os ventos mudaram para sempre Apagando as pálidas imagens Dos mitos, de caveiras, "belle-époque" Que fugiram para longínquas paragens Porque o sorriso voltou de novo ao rosto Daqueles que ficaram vigilantes Perfumando cidades e aldeias Que deixaram de ser como eram antes Também eu me sinto um homem novo Do sangue que me corre pelas veias Porque o stress levou todas as fontes Que levaram a nevasca às aldeias V - Como... Como um raio de sol na porta entreaberta Como quem tem um filho pela primeira vez Como quem anda nu sobre a praia deserta Como quem pisa a lama entre os dedos dos pés Como um poema de maio sobre o meu país Como quem dorme ao relento em pleno mês de agosto Como as linhas da vida na palma da mão São as coisas mais simples que me dão mais gosto. Como quem passa sempre no mesmo lugar Como o tempo escrevendo sulcos no meu rosto Como a luz desenhando círculos de fogo Entre as nuvens que sobram da linha do sol posto Como o vento agitado na rama dos pinhais Como a sombra cobrindo parte do meu corpo Como o som lembrado algum tempo depois São as coisas simples que me dão mais gosto. VI - ...cantamos pessoas vivas. (reprise) E depois de começar Embarcamos na canção Sem pontas nem grandezas Com o povo no coração Pra isso serve a canção Navalha de corpo inteiro Pra dar o golpe certeiro Em quem lhes nega a razão Acabar também é simples Mais simples do que começar Desenhamos um país Com o máximo vigor Sem pessoas nem fronteiras E fomos bem adentro Palavras certeiras... É por aqui que se termina Pelas palavras simples Pra isso serve a canção Definindo a situação Cantando pessoas vivas... Cantando pessoas vivas...