José Afonso

Tenho Um Primo Convexo

José Afonso


Tenho um primo convexo 
Fadado para amnistias 
Em torno de ele nadam 
Plantas carnívoras 
Agitando como plumas 
As cordas violáceas 
O meu primo dormita 
Glu glu entre palmeiras 
Suspenso numa rede 
De suor e preguiça 
Corvos bicam-lhe os pés 
Trincam-lhe os calos 
Enquanto a tarde jaz 
E a mão suspende 
O gesto de acordá-lo 
E a terra treme 
Mas de nada o meu primo se apercebe